“Ser o primeiro a chegar e o último a sair” sempre foi sinônimo de admiração e profissionalismo no trabalho, um exemplo perfeito a ser seguido. Essas pessoas que “vestem a camisa” foram, durante muito tempo, o símbolo da cultura de “glamourização do workaholic”. Expressões como “fazer mais com menos” e “realizar tudo no menor tempo possível” trazem, de maneira inconsciente, uma sensação de que o seu trabalho determina quem você é e o seu “sucesso na vida”. Porém, em um mundo de comunicação instantânea e cada vez mais exigente por resultados, o tempo e o espaço destinado ao trabalho invadiram a esfera pessoal e afetaram as relações familiares e sociais.
De maneira ampla, podemos dizer que a dinâmica atual de trabalho sob pressão excessiva vem literalmente esgotando as pessoas e prejudicando sua saúde física e mental.
O Brasil está em 2º lugar dentre os países com maior índice de Burnout, com 30 milhões de cidadãos afetados. De acordo com o Ministério da Saúde, a Síndrome de Burnout é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. Em suma, é um estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado adequadamente.
O Burnout apresenta três dimensões, que são as seguintes: xaustão: quando a pessoa não consegue mais mobilizar a energia necessária que o trabalho requer (cansaço físico e mental); despersonalização: quando surgem atitudes insensíveis em relação ao outro, com traços de cinismo e indiferença e; Reduzida Realização Profissional: uma sensação constante de insatisfação com o trabalho e com a própria vida. Em resumo: desgaste, desistência e “queima”.
De acordo com a literatura sobre o tema, inúmeros são os fatores que podem desencadear essa condição de sobrecarga: excesso de trabalho, falta de reconhecimento, situações de assédio, restrições à criatividade, mau relacionamento com os colegas, carência de pessoal para realizar as tarefas, prazos inegociáveis e metas abusivas. Além disso, a empresa ou órgão público pode contribuir para o esgotamento quando não oferece as condições de trabalho adequadas: segurança ineficiente, falta de ergonomia (móveis, iluminação, ventilação, equipamentos danificados etc.) e ausência de espaços de sociabilidade. Também deve ser levado em consideração o perfil de uma pessoa com inclinação para o burnout: geralmente, são indivíduos idealistas, exigentes e altamente perfeccionistas.
Marlon Bernardo, Presidente do SINDSEMP-AM, observa que “essa cultura de pressão, excessos e aparências potencializada pelas redes sociais, um modo de vida “always on” (sempre ligado), provocou sérios danos à percepção dos limites individuais. O “tempo de tela” já é considerado um dos principais fatores para o desenvolvimento de burnout. Por isso, o sindicato do MPAM fará uma campanha chamada “Desconecta” que, apropriada (ou ironicamente), será veiculada pelo perfil no Instagram @servidores.mpam”
Quais estratégias as Instituições e os gestores podem adotar?
A multiplicidade de fatores exige uma variedade de intervenções: redefinição e reorganização dos processos de trabalho, uso da tecnologia para reduzir o esforço manual, revisão de normas e políticas institucionais, dimensionamento da força de trabalho, promoção de valores humanos com ênfase na coletividade (cooperação), combate ao assédio moral e sexual, solução consensual de conflitos e promoção do bem-estar como estratégia institucional (ações de relaxamento e controle de estresse, grupos de apoio, flexibilização do horário de trabalho, programas de teletrabalho, capacitações de ordem técnica ou de habilidades interpessoais, maior participação das pessoas nas tomadas de decisão e estímulo a atividades de expressão artística).
No âmbito individual, é necessário criar hábitos saudáveis, tais como: maior tempo para lazer e socialização, evitar comparações com os demais, reconhecer seus limites e manter uma visão realista de si.
Marlon Bernardo completa: “Estamos diante de um fenômeno ocupacional de escala mundial. Recentemente, vivemos uma pandemia sanitária pela covid-19 que durará alguns anos. Porém, a síndrome de burnout, por ser um estado emocional, também guarda aspectos contagiosos. Precisamos mudar nossa relação com os excessos do trabalho sob o risco de vivermos uma pandemia cultural que levará gerações para ser enfrentada”.