Publicado em 28/9/21, às 09h00.
Na ocasião, a conselheira contextualizou cenários pré e pós-pandemia da Covid-19 durante a elaboração do Projeto Bem Viver – Saúde Mental no Ministério Público, que envolve uma série de ações com o objetivo de preservar e promover a saúde mental dos membros e servidores do Ministério Público brasileiro.
Nesse sentido, Krieger afirmou que, “às vezes, o ambiente de trabalho é opressor, mas é bem mais opressor ficar em casa trancado em um quarto, com as crianças sem ir à escola e com aulas on-line, em um mundo de isolamento e de uma perspectiva familiar que deixou a gente desconcertado. E, ao mesmo tempo, com a pressão de realização de metas, de atendimentos e de resoluções de problemas, somada ao luto pelas perdas de parentes, amigos e colegas. Nesse cenário, a saúde mental passou a ser muito mais desafiadora numa organização”.
A conselheira chamou a atenção para o fato de quatro mil servidores, membros e colaboradores do Ministério Público brasileiro terem respondido ao questionário sobre as condições de saúde mental na instituição. A amostragem científica inicial necessária para a elaboração do relatório era de 800 respondentes. “Esse questionário foi elaborado pela ciência, com metodologia validada internacionalmente por pesquisadores e psicólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eles tinham expertise em trabalho dessa natureza, mas não dessa envergadura”, disse Krieger.
Salientou ainda, com base nas respostas obtidas, que o CNMP poderá agir preventivamente antes que alguém isolado em casa, com uma crise depressiva, não consiga responder ao seu trabalho e seja processado pela Corregedoria. “Até descobrir que aquela pessoa era muito produtiva e que caiu num buraco sem fim, ela já terá sido processada e terá ficado pior. E, muitas vezes, terá sido até aposentada por invalidez”.
De acordo com Krieger, é preciso trazer para a realidade concreta as causas e as consequências da depressão, do transtorno do pânico, do burnout e da fadiga emocional. “De certa forma, ao falar do assunto, a gente melhora um pouco a vida das pessoas”.
Tempo
Em sua apresentação, o promotor salientou que a sociedade atual nos impõe acelerar o ritmo de vida para não perdermos status, ou seja, para nos mantermos aonde estamos. “Partimos da máxima liberal do tempo é dinheiro e chegamos a uma sociedade do tempo escasso”. O trabalho nos consome cada vez mais. Não temos tempo para manter nosso patrimônio cultural, como frequentar cinemas, teatros e shows, ou nosso patrimônio social, que consiste nas relações com a família, com amigos e com grupos. Também não temos tempo para administrar adequadamente nosso patrimônio sanitário, tal como se dedicar aos exercícios físicos, ao lazer e à saúde mental.
Ao afirmar que a depressão é umas das principais enfermidades da atualidade, Bisol complementou que “é preciso encontrar soluções no trabalho, em especial, para enfrentar esse problema gravíssimo”.
Além disso, o promotor pontuou que a vida acelerada acarreta quadros de depressão e de ansiedade, que são confundidas com nossas tristezas naturais. “É necessário dispor de tempo para poder extrair a doçura da vida dos favos de nossas tristezas naturais; essas tristezas são fundamentais para nossa construção como sujeito. Mas as tristezas oriundas da depressão e da ansiedade não possuem favos: são buracos que nos consomem, imensos vazios”.
Bisol aproveitou a palestra para parabenizar a conselheira Sandra Krieger pela iniciativa do Projeto Bem Viver – Saúde Mental no Ministério Público. “Trata-se de um trabalho denso e qualificado, que resultará mais do que em subsídio para a construção de uma política institucional de cuidados com a saúde mental, num diagnóstico científico precioso para todos os ramos do Ministério Público brasileiro”.
A palestra “Saúde mental e trabalho” foi mediada pela procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado do Ceará e presidente da Ampasa, Isabel Porto.
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