Geni que o diga!*
Por Samara Coelho de Oliveira**
Chico entregou história e melodia ao cinismo requintado que o Brasil carrega em sua essência.
Nascer mulher nos trópicos tupiniquins é por si só um ato de coragem, obrigatoriamente você terá que ser mais forte para não sucumbir. Por aqui desvirtuar direitos, brutalizar corpos e ofender intimidades é esporte tão popular quanto o futebol.
Por mais íntegra que você acredite ser a sua passagem por essa vida, aqui não há como sair ilesa. Em algum momento, percebendo ou não, teremos nosso gênero sendo deslegitimado, e pior, violentado.
Perspectivas são violadas ao nos reduzirem a úteros, troféus, fragilidades, onde cabe potencial, inteligência, racionalidade.
O Brasil é tão cruel com as mulheres que ouso dizer que a desventura de Geni poderia ter sido bem pior (dados indicam que no Brasil uma mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas). E piora quando avistamos os comandantes saindo triunfantes em seus Zeppelins prateados.
Sei que esse texto soará ácido, mas são tantos os aspectos tenebrosos que o patriarcado nos impõem que não daria para ser diferente, não posso me pretender poética diante dos fatos que nos deparamos dia após dia. Impossível amolecer sensações, ao contrário, enrijeço-as. Elas latejam angústia e medo.
Se você lendo a coluna agora me chama de exagerada, realmente sou, afinal já extrapolei para mais de 30 a quantidade sugerida de 200 palavras para essa publicação.
*Referência a canção Geni e o Zepelim, de Chico Buarque.