Colegas, o pacote da morte do governo de Eduardo Leite é cruel com os servidores e desmonta o serviço público, mas é educativo. Quantos de nós, servidores, e nossas famílias, votamos nos deputados que: 1) estão apoiando um pacote que congela nossa renda e reduz brutalmente os proventos de aposentadoria; 2) apoiam o parcelamento de salários, mas são favoráveis aos incentivos fiscais e o perdão de dívidas; 3) votaram a favor da terceirização da atividade-fim, inclusive no serviço público; 4) votaram na privatização da CEEE, Sulgás e CRM; 5) aprovaram o esvaziamento e o desfinanciamento das entidades sindicais; 6) estão terceirizando todo o serviço público; 7) elegeram os servidores como bode expiatório da crise; 8) desejam privatizar o DMAE, a Corsan, o BB, a Carris, o Banrisul, a CEF e tudo que for lucrativo?
O que mais eles precisam fazer para entendermos quem está contra nós, não por causa da falsa premissa de custo no orçamento do Estado utilizada para justificar o pacote, mas porque integramos uma forma de organização social que eles visam destruir?
O serviço público, gratuito e acessível a todos, representa um entrave à ideologia e às práticas neoliberais, alicerçadas no ideário de abandono da população ao individualismo e à desassistência, etiquetado com o rótulo enganoso da meritocracia, que, no contexto neoliberal, significa cidadania reservada aos (poucos) que possam pagar por ela.
Por outro lado, as medidas anti-serviço público têm um efeito marqueteiro que recebe uma aprovação social influenciada há décadas por campanhas, de governos e midiáticas, de sucateamento da estrutura estatal e de desvalorização dos servidores e dos serviços por estes prestados.
Não é mais possível, porém, enganar-se com o discurso de que o estado deve ser enxugado para se dedicar somente à educação, saúde e segurança, e, portanto, as atividades lucrativas e que poderiam gerar dividendos a serem revertidos em bem-estar da cidadania, devem ser repassadas ao lucro da iniciativa privada, que prestará serviços mais caros à população, em alguns casos, até impagáveis.
Há um tsunami contra o serviço público e seus servidores. Mas, porque é importante achatar a renda destes e enfraquecer as entidades sindicais? Primeiro, porque o “mercado” deseja abocanhar as funções lucrativas e estratégicas do estado e, para isto, é preciso acabar com toda e qualquer resistência. O maior foco de resistência é dos servidores porque nós somos o braço do estado que concretiza as políticas públicas, temos orgulho do que fazemos e consciência de que trabalhamos para toda a sociedade, especialmente para os mais necessitados que não podem pagar pelos serviços privados e, portanto, precisam mais do estado.
Quando um professor alfabetiza uma criança pobre, descortinando o mundo para ela, é o estado que está presente; quando um médico, uma enfermeira ou um técnico da saúde pública salva uma vida ou faz o tratamento de um câncer é o estado que está presente; quando um fiscal interdita a comercialização de carne podre nos embutidos, é o estado que está presente; quando um policial evita um crime ou prende seu autor, é o estado que está presente. Portanto, nós temos uma relação orgânica com o estado/serviço público, e, por isto, precisam nos enfraquecer.
Mas o que podemos fazer? A primeira coisa é entender que vivemos numa democracia, cuja grande arma é o voto. Muitos servidores votaram e elegeram vereadores, deputados e senadores que chegam à Câmara Municipal, à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional e votam contra os servidores e o serviço público. Estes colegas têm fomentado a própria destruição. Se há um tsunami contra nós, precisamos nos unir e nos defender.
Nós, servidores federais, estaduais e municipais, estamos em todas as cidades, temos relação direta com a população e, se tivermos consciência, unidade e atitude, podemos ser decisivos nas eleições. Este ano teremos eleições municipais e uma oportunidade de começar a virar o jogo. Os prefeitos e vereadores eleitos em 2020 serão os principais cabos eleitorais de deputados estaduais, federais e senadores em 2022.
Precisamos constituir uma frente política cujo único e grande compromisso é: NÃO VOTAR EM PREFEITOS E VEREADORES QUE SE POSICIONAM CONTRA NÓS E QUE APOIAM DEPUTADOS QUE VOTAM CONTRA NÓS.
E, para isso, não é mais possível agir com ingenuidade ou desinformação; é fundamental atentar aos discursos e ao seu léxico neoliberal, bem como às ações, ao histórico e aos apoiadores dos candidatos. Se enfraquecermos aqueles que nos prejudicam e fortalecermos aqueles que nos apoiam, começamos a reduzir o poder dos que querem destruir o Estado e o serviço público; do contrário, se não fizermos isto, eles ficarão mais fortes e destruirão, de vez, o nosso futuro.