Foi com grande indignação que nós da Marcha Mundial das Mulheres recebemos a notícia de que o juiz Tiago Antunes de Aguiar, da 24º Vara Federal, autorizou o pedido do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para despejo do Centro de Formação Paulo Freire, localizado na cidade de Caruaru, no interior de Pernambuco.
O Centro de Formação Paulo Freire faz parte do Assentamento Normandia, conquista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fruto da luta pela Reforma Agrária Popular e é a área coletiva destinada à realização de processos formativos das assentadas e assentados da reforma agrária e demais trabalhadoras/es do campo e da cidade de Pernambuco, e também de todo o Brasil, chegando a sediar até encontros internacionais. É sede ainda de cooperativas que beneficiam alimentos que servem de alimentação saudável à população, em especial de estudantes de escolas públicas.
A educação promovida no Centro de Formação Paulo Freire tem, sim, um lado: o lado da classe trabalhadora. O ataque a este centro de formação também tem lado. É o ataque dos setores que querem um país sem democracia e sem direito à educação, sem pluralidade, sem pensamento crítico, sem alimentos saudáveis, sem vida.
Esse ataque acontece em um contexto em que o poder executivo nacional, setores do judiciário e do legislativo e mídia comercial se aliam em um projeto de desmonte dos direitos da classe trabalhadora e são coniventes com o aumento da miséria, do conservadorismo e a criminalização dos movimentos sociais – que sob o manto da falsa neutralidade se torna ainda mais violenta. Precisamos destacar que o atual presidente distribuiu cargos no INCRA para seus aliados políticos e em Pernambuco aceitou a indicação do presidente nacional do seu partido, o PSL, Luciano Bivar, nomeando o coronel da Polícia Militar, Marcos Campos de Albuquerque para superintendente regional do Instituto.
A Marcha Mundial das Mulheres está entre os diversos movimentos populares acolhidos pelo Centro de Formação Paulo Freire. Foi lá, que dentre outras atividades, realizamos nosso Encontro Estadual de 2017, reunindo cerca de 200 mulheres de todo o estado para pensar sobre nossas condições de vida e traçar planos de superação das desigualdades. Foi lá que fomos acolhidas para estudar nossa realidade, enquanto as crianças sob nossa responsabilidade estavam na Ciranda, espaço educativo destinado especialmente a elas.
Nós, mulheres do litoral ao Sertão, que tantas vezes reescrevemos nossas histórias a partir dali, estaremos em luta para que nada se desfaça. O Centro de Formação Paulo Freire é e seguirá sendo a materialização da conquista pela classe trabalhadora de seu teto, sua terra, sua autonomia alimentar, da possibilidade de sociedade igualitária, sem fome, sem analfabetismo e com muita vida e solidariedade. Convocamos todas e todos a seguirem em marcha, se somando às iniciativas de solidariedade ao Centro de Formação Paulo Freire e ao MST!
Setembro 2019