Após três anos de reformismo liberal no Brasil, os resultados são pífios como o pibinho que produziram. A reforma trabalhista até aqui gerou mais subempregos do que empregos, elevando a informalidade e a insegurança no mercado de trabalho. A reforma previdenciária não atraiu investimentos; não ajudou sequer a segurar capitais estrangeiros no país. A agenda reformista não está dando certo. E é imperioso entender o que saiu errado.
As reformas foram um equívoco? A resposta é complexa. Não dá para ignorar que as velhas leis trabalhistas eram anacrônicas e as previdenciárias insustentáveis. Tinham que ser reformadas, atualizadas ao nosso tempo. O equívoco foi de conteúdo. Elas se revelaram malfeitas.
Faltaram equilíbrio e senso de justiça em ambas as grandes reformas e também nas reforminhas que vêm sendo realizadas desde o governo Temer. A trabalhista foi feita sob a visão única do empresariado. Chegou-se ao cúmulo de preservar os recursos das entidades patronais, que mantiveram o grosso das verbas bilionárias do Sistema S, e deixar à míngua os sindicatos de trabalhadores. A liberalização só existiu para o lado mais fraco.
A reforma previdenciária foi um show de barbaridades sociais. Só um exemplo: os militares, que já têm privilégios absurdos no país, receberam aumento salarial para compensar as pequenas perdas na previdência. No frigir dos ovos, eles saíram ganhando enquanto a maioria da população se ferrou.
O objetivo das reformas foi louvável. O que as distorceu foi o viés elitista. Do jeito que foram feitas, as mudanças acabaram preservando os mais ricos e jogando a conta do ajuste fiscal para as camadas mais vulneráveis. Não tinha como dar certo. Foi antieconômico. Afinal, o cidadão prejudicado pelas reformas é o mesmo consumidor que sustenta a economia.
As reformas tinham que ter sido feitas de modo a preservar o poder aquisitivo da maioria. Proteger a demanda das empresas. O IBGE está aí para comprovar com uma série de dados que a renda dos brasileiros permanece estagnada. Não seria assim se o reformismo se preocupasse com a renda e emprego dos cidadãos que movem o consumo e não apenas com os custos/lucros das empresas. O excesso de servilismo do governo e do Congresso ao patronato contaminou e distorceu mudanças que deveriam – e poderiam – ter levado o Brasil a crescer.
Depois de três anos de pibinhos e fracassos, já passou a hora de uma autocrítica dos empresários e políticos reformistas. Urge aceitar o fato de que não haverá crescimento de riqueza no país enquanto a população empobrecer. Nenhuma nação prosperou empobrecendo seu povo.
A elite brasileira precisa ver o povão como parte indispensável de seu projeto de desenvolvimento pois depende dele para girar a roda, ganhar dinheiro. Não há plano econômico que dê certo se não for justo, equilibrado e inclusivo.
Se as próximas reformas liberais e necessárias, a administrativa e a tributária, não corrigirem o vício das anteriores e buscarem equidade social, serão inócuas para a economia e motivo para novas decepções.
Fonte: Novos Inconfidentes