Alternativas menos penosas à sociedade e ao serviço público em relação às propostas do atual governo de MG já foram apresentadas por entidades sindicais, deputados e economistas
Zema está indo longe demais nos seus ataques à Cemig. O último vídeo que postou nas redes sociais, ao lado do presidente da estatal, Cledorvini Belini, chega a ser patético de tão impróprio. A dupla insinua que vai faltar luz em Minas se a empresa não for vendida. Então, a companhia de 67 anos, admirada no mercado, lucrativa e referência em governança, de repente está caindo aos pedaços? Difícil colar. Mas, a verdade pouco importa nos dias de hoje. O que importa é a tática do governador, o apelo recorrente ao discurso da falta de opção, do inevitável.
Na lógica de Zema, só há um jeito para Minas, assim como para a Cemig: o jeito que propõe, o seu jeito. E nessa política do ‘jeito único’, o empresário que se elegeu governador sem base política vai impondo a sua pauta como um trator.
A tática não-tem-outro-jeito está tratorando neste momento a Assembleia para aprovação veloz, sem discussão, de uma operação de antecipação dos royalties do nióbio para reforçar o caixa estatal em cerca de R$ 5 bilhões. A maioria dos deputados tem dúvidas sobre a operação e teme seus efeitos nos governos futuros. Mas, Zema colocou todos contra a parede ao insistir que não há outro jeito para pagar o 13º dos servidores.
O governador sabe que há opções. Como cidadão de Araxá, a terra do nióbio, ele cresceu ouvindo comentários sobre o contrato do Estado com a CBMM, coisa de pai para filha predileta. Por que não se pensa, em vez de antecipar royalties, rever a forma como eles são cobrados? Por que os royalties do nióbio ainda são calculados sobre os lucros líquidos da mineração e não sobre as receitas brutas (ou produção) como sempre foi para petróleo e já é realidade para o minério de ferro? Óbvio que há razões para a disparidade de situação financeira dos dois sócios da extração do nióbio: a empresa multibilionária e o estado pobre.
Mas, voltando à Cemig, o argumento patético da falta de luz futura parece totalmente desnecessário. O governador não precisa atacar a estatal, nem expor auxiliares ao ridículo. Não há razão para forçar tanto a barra. O legislativo mineiro tem tradição de cooperação com o executivo; ao menos nas últimas décadas não se lembra de ocasião em que os deputados tenham negado apoio ao governador em projetos relevantes, sobretudo em contexto crítico. No máximo, negociam mudanças e compensações. Políticos preferem acordo ao confronto, sempre.
A maioria da opinião pública é contra privatizar a Cemig. Questão de bom senso e não de ideologia. O dinheiro da venda seria consumido em meses com pagamento de servidores. Muita gente não concorda que se torre uma das maiores empresas mineiras no ajuste do Estado, quando há a opção de se adequar a folha às receitas. Tem o marajaísmo, o empreguismo e outros ‘ismos’ à espera de uma tesoura corajosa.
Mas, a opinião pública não tem balizado as decisões dos governantes e políticos no país. Se ela fosse ouvida, o Congresso não teria aprovado as reformas trabalhista e previdenciária, entre utros projetos impopulares. O povo xinga, reclama, mas não oferece resistência prática. Acabou em fiasco uma greve deflagrada este mês pelo sindicato dos funcionários da Cemig para protestar contra a privatização. Provavelmente, poucos sairão às ruas para tentar impedir a venda da estatal. E ninguém se lembrará dos votos dos deputados nas eleições de 2022.
Na verdade, contrariar a população tem sido uma tônica das leis recentes. O que está prevalecendo no Brasil, e em Minas por tabela, é o consenso do empresariado e das elites econômicas. E elas estão fechadas com a venda da Cemig, assim como todas as demais propostas do Regime de Recuperação Fiscal, a solução ultraliberal para estados em crise abraçada por Zema como o “jeito único” para Minas.
O governador não precisa apelar. Vender a Cemig não está tão difícil. Não há obstáculos em política que possam superados com uma boa conversa, sobretudo se envolver a liberação de emendas ou verbas para municípios em ano eleitoral. O que talvez não funcione bem, e possa até atrapalhar a privatização, é a exibição de vídeos apelativos.
Ao contrário do que dizem alguns por aí, são grandes as chances de sucesso na privatização da energética (e outras estatais). Se Zema não derrapar no trator, os mineiros podem vir a abrir mão da Cemig fácil, fácil. E se não houver mais interessados, os chineses compram fácil, fácil.
Fonte: Novos Inconfidentes