Crises financeiras, econômicas e desemprego estão associadas a aumento de suicídios

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O recente suicídio ocorrido nasegunda-feira, 29/8, no qual uma família inteira foi encontrada morta no condomínio Barra das Tijuca, no Rio de Janeiro, pode ter sido motivada pela crise financeira e econômica que assola os brasileiros e o país. A perda do emprego, também tem sido motivo para o aumento da quantidade de suicídios.

Essa assertiva tem sido destacada na literatura científica em estudos consistentes que mostram, em momentos de crise econômica, aumento no número de suicídios, além de casos de depressão e distúrbios mentais.
Em 2009, por exemplo, o BMJ (British Medical Journal) publicou estudo mostrando que, após a crise econômica de 2008, houve quase 5.000 suicídios a mais do que o esperado em 27 países da Europa e 18 das Américas. Entre os homens europeus, houve um aumento de 11,7% dos suicídios entre os jovens entre 15 e 24 anos. Nas Américas, o maior aumento (5,2%) ocorreu entre homens com idade entre 45 e 64 anos.
Segundo os pesquisadores, o aumento das mortes ocorreu, sobretudo, em setores e países onde houve muito desemprego. Os pesquisadores veem a relação entre o estresse emocional da recessão e o ato de tirar a própria vida como uma provável relação de causa e efeito. No Brasil, também houve aumento de casos de suicídios após o Plano Collor, que confiscou a poupança.

Aumento de distúrbios mentais
Segundo os psiquiatras, pessoas que já têm uma predisposição para determinados distúrbios mentais, diante de uma situação de estresse e, sobretudo, da falta de perspectiva de saída, acabam não vendo mais sentido na vida, não enxergam mais aquela luzinha no fim do túnel que tantas vezes nos resgatam do desespero e nos faz seguir em frente.
A possibilidade de aumento de suicídio e de doenças mentais por conta de crises econômica já motivou a OMS (Organização Mundial de Saúde) a emitir nota dizendo que “não devemos nos surpreender ou menosprezar as perturbações e as possíveis consequências da crise financeira”.
O momento é propício para falarmos também de prevenção ao suicídio. No Brasil desde 2006 existe no Ministério da Saúde um programa chamado de Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio. Mas o plano não possui metas específicas e nem orçamento. Ou seja, não saiu do papel.
Prevenção também se faz quebrando tabus que ainda envolvem o tema suicídio. Falar sobre o assunto, oferecer afeto, indicar saídas podem ajudar muito. Especialistas dizem que o suicídio pode ser prevenido em 90% das situações. Em geral, pessoas que pensam em se matar emitem sinais que podem ser captados.

Em favor da vida
Em junho último, o CVV (Centro de Valorização da Vida) em parceria com o Facebook criaram uma nova ferramenta em que amigos podem intervir ao identificar postagens com sinais alarmantes. Funciona assim: ao perceber que um amigo postou um conteúdo que possa indicar uma tendência suicida, o usuário pode escolher a opção “denunciar a publicação”.

O Facebook perguntará o que está acontecendo, e a pessoa deve escolher a opção “acredito que não deveria estar no Facebook”. Depois, a questão é: “o que há de errado”. O usuário poderá escolher uma opção relacionada ao suicídio.
A pessoa então receberá uma mensagem no seu Facebook avisando que um de seu amigos está preocupado com ele (sem identificar quem fez a denúncia), oferecendo opções como enviar uma mensagem a um amigo, conversar com um agente do CVV pelo telefone, chat ou e-mail ou ainda receber dicas do que fazer.
E se um amigo lhe pedir ajuda, ficam aí algumas dicas do Carlos Correia, voluntário do CVV, de como agir: nunca diga que está sem tempo; não comece a elencar coisas ruins sobre a própria vida, iniciando uma “competição de desgraças”; não diga algo como “do que está reclamando? Você tem tudo para ser feliz!”. Atitudes simples, como convidar seu amigo para dar uma volta ou apenas escutá-lo já podem ser suficientes.
Sim, há casos em que nada vai adiantar. Nem conselho, nem terapia, nem remédio. Mas para muitos essa ajuda pode fazer toda a diferença. O texto original foi publicado no portal da Folha de São Paulo em 30/8/2016.

Fonte: DIAP